21 janeiro 2007

O Tigre das Sombras e o Cavalo de Fogo

A legião do Tigre das Sombras chega antes de os vampiros saberem do exato do acidente. A legião é formada por membros solidários àqueles que lhes foram caros em jornadas anteriores, seguem um rigidamente uma norma de conduta: São extremamente fiéis aos seus princípios de grupo e não têm porque ter piedade ou interesse por outros que não lhes dizem respeito.

Há naquele veículo dois corpos bastante machucados que são de grande interesse para os tigres, são dois membros perdidos de uma legião chamada Cavalo de fogo, mas a inconsciência do instante não os deixa saber de onde são nem para onde devem ir ou até mesmo com quem seguir. Mas o perigo está próximo e a cada instante fica mais perto, mesmo assim o Marcelo ,todo alquebrado, tenta amparar a sua esposa Sandra enquanto começa a discutir com o Ernesto:

- Sei que queres me ajudar porém não podemos deixar os outros à mercê dos vampiros, afinal são todos iguais perante Deus.

- Eu não tenho nenhum compromisso com nenhuma divindade, o único que possuo é o compromisso com os meus, se quiser se salvar e à Sandra, acompanhe-nos – retruca Ernesto, ainda calmo.

- Mas com que se compromete então? Com todos estes maltrapilhos que andam com você sem destino, será esse povo mais importante que outros filhos de Deus?

- Não me interessa se é mais importante ou não, apenas me interessa que nós somos maltrapilhos que se ajudam mutuamente, não somos um povo, não temos sem líderes, sem deuses, sem destino, apenas a arrebanhar alguns como os nossos para continuar a vivermos em bando – diz Ernesto, com um tom de voz bem mais agressivo .

- Porquê então não deixa estes outros seguirem com vocês, pelo menos enquanto estiverem machucados. Assim que se recuperarem um pouco poderão se defenderem sozinhos?

- Não são dos nossos – responde Ernesto, com um ar de indiferença quase infantil.

E indignado, Marcelo retruca:

- Quem são os seus então?

- Todos aqueles que foram importantes para nós, e que de uma forma ou de outra ficamos compromissados em outras eras

Nisso, os vampiros já se faziam visíveis e, como abutres, esperavam para atacar a presa. Ernesto então dá o seu ultimato:

- Se quer se salvar e à ti e a sua mulher, venha agora. Não quero e nem posso perder qualquer um dos que me acompanha para aquela corja, aquele bando de sanguessugas não merece ter nenhum de nós como presa, nem mesmo um combate com eles valeria a pena – apontando para o bando de vampiros próximo diz: - E veja como são muitos, proliferam como um bando de insetos.

- Não entendo ainda este mundo, pois acabei de chegar, iremos te acompanhar, pois Sandra está muito fraca e não poderei defendê-la e não nego que também estou debilitado, pois isto que me parece ser um acidente me deixou bastante fraco.

Enquanto o bando dos Tigres das sombras deixavam o local, os vampiros atacavam com voracidade. A cena era a mais cruenta possível de ser observada, por isso Ernesto pediu a Marcelo e Sandra:

- Não olhem para traz, pois o que iriam ver não é agradável aos olhos e em nada irá lhes acrescentar, visto que ainda têm muitos pudores nesse novo mundo.

Sandra obedece sem perceber direito sua atitude devido ao seu estado, mas Marcelo caminha olhando para trás ficando estupefato a cena diabólica.

A caminhada era longa, principalmente para os novatos. Ainda não sabiam o destino, nem mesmo se havia um destino na vida daqueles seres estranhos.

Marcelo estava pensativo:

“Estes cavaleiros são realmente esquisitos, seus cavalos são ricamente ornados e belíssimos, cavalgam com extrema maestria e são, na sua maioria, cavaleiros elegantes na postura e belos em suas fisionomias, apesar de carregarem consigo um ar de cansaço ou de desalento e aquelas roupas horrorosas e repugnantes.

O sol está a escaldar-nos, fazendo-nos molhar como se estivéssemos a nadar. E porque de estarmos neste deserto cavalgando a varias horas sobre essas dunas?”

Os pensamentos de Marcelo são despertados por uma visão ainda mais dantesca: um bando de refugiados que conseguiam estar mais maltrapilhos e carcomidos, que deixavam um rastro, “seria sangue?”. À frente vinha um ser altivo, que se percebia ser um sofredor, parou à frente do bando e rogou:

- Faça uma prece por nós, senhores.

- Podemos lhe dar água, é o que temos – responde Ernesto, o qual disse não ter líder, mas não se fazia de rogado para ser o porta-voz da tribo.

- Senhor, necessitamos muito mais de orações nesse deserto do que de água – diz o mendigo.

- Se quiser, a água lhe será entregue, caso contrário estamos de partida e estamos com pressa - atalhou um outro da legião dos Tigres, que Marcelo descobriu se chamar Antônio.

- Senhor, sou muito grato por esta oferta e iremos aceitar, pois desta forma teremos como continuar com melhor ânimo para procurar outros a orarem por nós – respondeu o andarilho.

- Porque não podemos orar por estes, uma simples reza católica ou um mantra, não nos custará tempo algum, é menos que o tempo de darmos a água para eles - protestou convincente, Marcelo.

- Ainda é novato aqui e temos algumas regras, na verdade não são regras, mas meio de conviver nesta coletividade e respeitamos todos os que a integram e resolvemos não fazer este tipo de concessão a ninguém. Não estamos dando água por piedade ou outro sentimento reles, mas porque nos sobeja em abundância e não temos pressa alguma. O tempo nada tem a ver com isto. Apenas não queremos fazer prece alguma por outros que não sejam os do bando. E não podemos correr riscos desnecessários.

Enquanto Ernesto explicava estas coisas a Marcelo, outros da tribo iam servindo água aos andarilhos.

- Não consigo entendê-los, descem de seus cavalos, perdem seu tempo para doar algo que não tem a importância requerida pelos pedintes, quando é muito mais simples e caridoso doar aquilo que necessitam, ou até mesmo ambas as coisas – argumenta Marcelo.

- Não estamos sendo caridosos, estamos apenas diminuindo a nossa carga, pois não necessitamos de todo este peso – Diz Antônio, que chegava naquele instante.

A tribo estava prestes a sair do local onde estavam, já todos em seus corcéis negros, quando Marcelo desce do único cavalo branco que havia dentre todos e pára à frente do andarilho e cerra os olhos em atitude de prece, quando é interrompido em sua atitude pelo próprio andarilho:

- Não faças isso, não quebres o código dos teus.

- Não compreendo - Responde desanimado, Marcelo.

- Se este é o teu povo, ou se estás sob a tutela dos mesmos, não os desapontes, não traia a confiança dos mesmos - explica o andarilho, virando as costas para Marcelo, rumando ao seu grupo em tempo de dizer ainda: - Arriscastes muito, posto que não conheces o nosso grupo, poderíamos ser um grupo disfarçado. Que Deus te abençoe e te dê compreensão.

Neste instante uma bruma espessa, de uma claridade espantosa repentinamente toma o lugar, envolvendo o grupo daqueles andarilhos, que vão se transformam em seres vestidos com uma armadura brilhante, que de longe pareciam iluminados, todos montados em cavalos brancos. Aquele que sempre se dirigia ao grupo das sombras se curva a outro colega, vestido com uma armadura muito mais bela que de qualquer outro dentre todos que estavam presentes. Foi recebido pelo primeiro pelo nome de Jerônimo, que pergunta a Marcelo:

- Se quiseres poderá ser um dos nossos. Percebo que você nos ajudará a esclarecer a outros sobre nossas verdades, assim como um guerreiro de luz como nós,. Segue-nos?

Neste mesmo instante virou-se e iniciou lentamente a ir embora junto com o restante dos seus.

- Sandra também poderá a ser uma de vocês? - Um pouco receoso, Perguntou Marcelo.

- Todos são dos nossos, mas nem todos conseguem nos acompanhar. Penso que você ainda não está preparado – Jerônimo disse isto meigamente, voltando o seu rosto para Marcelo e desapareceu juntamente com todo o grupo que o acompanhava.

Marcelo estava confuso, quando foi despertado de seus pensamentos por Antônio:

- Seu corcel negro o espera.

Marcelo se vira e observa que o cavalo que ele montava havia desaparecido, enquanto um belo cavalo negro, o qual estava sem cavaleiro desde o início da jornada, agora foi posto a sua disposição. Calado e pensativo, montou o belo animal e seguiu para junto de Sandra e Ernesto sem pronunciar palavra. Os pensamentos mais inusitados povoavam sua mente:

“Não sei exatamente onde estou, mas toda essa gente eu conheço. Os nomes são conhecidos, as feições são familiares, apenas o local é muito estranho e a roupagem e cenário em que tudo tem me acontecido é estranho. E afinal de contas: Quem é Sandra? Quem é Ernesto? Quem é Jerônimo? Eu conheço esse Antônio de onde?.”

Ao longe avistava-se uma paisagem diferente, eram nuvens pesadas sobre uma floresta densa, tal qual uma floresta equatorial. Parecia haver uma redoma encobrindo aquela estufa e a tribo de Ernesto se dirigia para lá a passos tranqüilos, quando subitamente um vampiro, que havia atacado os acidentados de Marcelo e Sandra, apareceu subitamente. Ele se dirigiu a Antônio e exigiu que Sandra fosse entregue a ele como pagamento de salvo conduto daquele dia. Antônio, sem pestanejar, se dirigiu em direção a Sandra e Marcelo e pegou o cavalo de Sandra, quando foi interrompido por Marcelo:

- Que pensa fazer, Antônio? Acaso é isso que somos aqui? Somos moeda de escambo para a sua covardia?

- Se nos acha acovardados, tome a minha espada e enfrente o rei dos vampiros. Se vencer será líder deles e terá nossa gratidão, além de salvar Sandra, que você ainda nem conseguiu lembrar ser sua esposa em sua última jornada - redargüiu Antônio sem aparentar qualquer perturbação ou expressão de sentimento.

Marcelo pegou a espada e apontou em direção ao vampiro, quando uma luz bastante suave desceu de algum lugar das alturas e atingiu o aço, canalizando uma energia desconhecida para Marcelo e atingiu o rei dos vampiros, que caiu inerte na frente de todos do bando das sombras. Neste instante uma revoada de vampiros se apresenta e se prostra à frente de Marcelo reverenciando-o como novo rei. No chão, abatido, o antigo rei dos vampiros havia mudado sua feição de homem-morcego para uma feição humana e sofredora, se contorcendo de dor, o que encheu de compaixão o pobre Marcelo, agora muito mais confuso.

Ele vai de encontro ao ex-vampiro e o carrega até o corcel pondo-o sobre a sela do animal se dirigindo até a selva das sombras. Todos o seguem. Ele se volta aos vampiros e lhes ordena:

- Procurem outro líder, pois não sou dos teus e nunca conseguiria sê-lo. Afastem-se destas paisagens e nunca mais ataquem nestas regiões.

Ouvindo isto, dois vampiros que estavam à frente do grupo se entreolharam e dividiram o imenso bando em dois e cada um foi para um lado, sumindo no horizonte.

Dentro da floresta, Marcelo perguntou a Ernesto o que havia acontecido com ele e este recomendou um bom sono para que as energias fossem restabelecidas e a memória pudesse trabalhar em seu habitat verdadeiro.

Sandra e Marcelo foram levados a uma tenda para o repouso e ficaram lá por três dias seguidos, de onde saíram para assumir seus postos junto ao bando. Estava tudo estranhamente claro para eles.




(este texto é o segundo capítulo de livro que está sendo escrito e será editado ainda este século)

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