30 dezembro 2010

Ano novo

As piadas ficaram velhas
e tolos sorrisos não conseguem envelhecer.
Somente os dias se passaram
e lágrimas novas já não são.
Tristezas antigas sempre serão
e os idiotas muitas vezes falam bobagens.
Os intelectuais também o fazem,
se existem,
mas nada interessa.
O ano novo chega.
São novos votos,
até eleições novas,
são promessas vãs, sabemos.
Sabemos mentir a nós mesmos,
serenamo-nos
e esperarmos lentamente
a morte,
a sorte.
Feliz ano novo!

Goiânia, 29 de dezembro de 2010

31 outubro 2010

Grão de areia

Talvez não faça diferença
o pequeno grão de areia,
assim tão ínfimo,
tão finito
perante o tão infinito,
perante as divindades.
Pobre grão de areia!
Mesmo existindo,
apenas existe.
O pequeno inseto
maior que o pó
será apenas pó.
Um imenso planeta
poeira Insignificante
perante o universo.
Ah! Vida tão finita!
Oh deuses!
Tende piedade de nós,
criação divina.


Avião a 1900 Km do Brasil, vindo de Luanda para São Paulo a uma altura de 11.582 m sobre o Oceano Atlântico, 04 de junho de 2010.

Minha casa tão pequenina

Minha casa tão pequenina
Tentei colocar ali junto ao fogão
Um pouco de alegria
Mas só coube a solidão
Fui arrumar perto da mesa
Um cadinho de beleza
Consegui um tanto, eu sei
Mas não combinou com a fruteira
Muitas frutas carcomidas
Não pela boca, pelo tempo.
Que o belo foi-se embora
Deu lugar a outra senhora
Nem formosa nem horrenda
Apenas tomou aquele lugar.
Outro dia arrumei tranquilidade
Coloquei ao lado da cadeira
Na sala de estar onde eu ficava
Mas o vizinho, ao seu estilo
Tratou logo de levá-la
Deixando companheira da solidão
A pobre depressão
Não me dei por vencida
Sou alma descontente
Com coisa pouco atraente
Limpei toda varanda
Coloquei ali a esperança
Mas como eu já não vivia
Ela, de verdade, não existia
Ficou comigo a ilusão.


1403 Km de São Paulo sobre o Oceano Atlântico, vindo de Luanda à 38.000 pés de altitude, no Avião
04 de Junho de 2010

09 julho 2010

Começo do fim

começa comigo
as minhas ações
termina em mim
o meu fim
sem ferir corações
sem sentir emoções
uma luz se acende
outro dia nasce
outro tolo nasce
outro fim se aproxima
outra próxima vítima
muitas vezes tão íntima
em rítimo lento
ou frenético
termina comigo
minhas ações
começa meu fim
em mim


Luanda, 10 de lunho de 2010

03 julho 2010

tão finito

Não entendo as mazelas dessa forma
porque nem sei se forma elas têm
não consigo enxergar as tristezas desse jeito
que nem jeito têm de ser tão tristes
menos ainda de buscar alegria em qualquer lugar
algures poderia haver algo mesmo assim
mesmo que não seja belo
que não seja feliz
não seja você
nem seja eu
O que sei, na verdade
é que todos buscam de verdade
por sentimentos tolos de tamanha maldade
pois belos que são
estão apenas na ilusão
por isso eu não entendo as mazelas
porque não sei a forma que elas têm
por isso eu não consigo ver a felicidade
nem iniquidade
naquilo que podem fazer
apenas para se entreter
são segundos, horas ou séculos
de luz e trevas
de vidas e mortes
de obscuridade ou claridade
clarividência nunca será
proficiência talvez
mas nunca se saberá
se a escolha será certa
se a morte será plena
se a vida é, deveras, curta
se o crime não compensa
se o grito será ouvido
se olvido tanta dor
tanto amor

simplesmente será assim
assim o é
para todo o sempre
sempre findo
no infinito
finito


Luanda, 04 de julho de 2010

30 março 2010

Rimas que tento

Tempo
Lento
No campo

Tento
Lendo
Sem tempo

Entendo
O tempo
Bento

E o vento
Atento
ao tempo

Sê contratempo
Em passatempo
do tempo



Luanda, 30 de Março de 2010

25 março 2010

Mundo tão pequeno

Ontem o mundo tão pequeno
para eu esconder minha pequenez extrema.
Eu não ouvi minha voz se lamentar muitas vezes,
mas lamentou-se tantas vezes apesar de tudo.
Eu ouvi vozes amigas me sussurrando alguma coisa.
Pena que meu ouvido se fez mouco uma vez mais.
Não havia nenhum buraco de avestruz
para eu me esconder de minha insensatez.
Fugir de mim mesmo,
desaparecer simplesmente.
Ontem o mundo era tão pequeno
e tantos olhos a me vigiar,
tantas vozes mudas a me criticar,
que nem as ouvi.
Apenas senti a minha mente
mentindo a mim mesmo.
Hoje já não há tanto peso.
Amanhã nem sei se vou lembrar,
nem sei se vou a algum lugar.

Luanda, 25 março de 2010

06 março 2010

Ave Maria

Ave Maria
Olhe para essa Terra
Terra com tantas desgraças
E tanta miséria
O Senhor não está conosco?
Bendita foste em teu fruto
E ante tantos pecados
Não rogue por nós
Predadores
Que em nossa hora da morte
Cerre seus olhos

Luanda, 06 de Março de 2010

Tristeza e solidão

Uma tristeza pode me dizer muita cousa
Porém eu não quero ouvir essa sua voz
Quero ser feliz ao menos um dia
Mas insiste em me falar junto ao meu ouvido
São tantas coisas a me fazer pensar
E me tiram poucas alegrias que recolho
Nem escolho em grande quantidade
E são bem simples assim
Louca tristeza sempre a me incomodar
Desvairada em suas verdades frias
Suas mortes muitas
E outras misérias que nem são minhas
Muitas vezes traz-me a solidão
Companheira de muitos colóquios
Ouça minha cara tristeza
Hoje sou eu quem lhe falo
Sei como é sua razão
Mas deixa comigo apenas a solidão
E continuo meu caminho
Outro dia eu vou lhe encontrar

Luanda, 06 de Março de 2010

Penso

Penso vários pensamentos
Mas não sei se penso quando penso
Se pensasse ao pensar
Pensaria diferente desse meu pensamento
Pensando bem, penso mesmo que não penso
mesmo quando penso que penso
em pensamento pensado
pensando sempre o que vou pensar


Luanda, 06 de Março de 2010

Revolução

Ouvi algo sobre mudanças,
boatos sobre um "front",
notícias de muitas mortes.
Disseram que vai mudar.
São boas novas,
são alvissareiras visões.
Muitos estão contentes.
Agora já são poucos a discordarem.
Agora já são poucos a se imolarem.
Agora já são poucos a se importarem.
É a revolução do bem,
é a revolução da verdade.
Pena que a verdade é tão diferente
naqueles corpos ensangues da guerra.
Pena que a verdade muda tanto
e assim tão rápido
como um projétil que perfura um crânio.
Ou uma vida, agora inerte.
A verdade não lhe ressuscitará
porque a verdade mente,
desde que ela já não lhe diz nada
ou nada serve aos seus ouvidos surdos,
sua voz calada e olhos cerrados.
Seu corpo vexado,
fechado para mais algum dia,
mais alguma guerra.
A revolução agora é dos vermes
e transformarão essa carne podre.


Luanda, 06 de março de 2010

22 fevereiro 2010

Mundo cão

Teu olhar de bebê lobo,
Teu uivo rouco e adocicado.
És apenas um cão nesse mundo.
És apenas um nesse mundo cão.
Sabes latir, cheirar e abanas a calda.
Acompanhas teu dono,
tens um dono
nesse mundo cão.
E se não tens um dono,
abanas a calda a qualquer um.
Às vezes mordes um qualquer
como um cão.
Também existem coleiras,
grades, prisões e sentenças de morte
para um cão nesse mundo.
Nesse mundo cão.

Marcilon
23/02/2010
Luanda