01 novembro 2008

O cotidiano

Não ando assim tão triste ultimamente

Essa tal felicidade que continua me perseguindo

Sei que os dias passam, cansados

Que as noites terminam, adormecidas

O apetite se acaba, em gula

A sede, muitas vezes, se embebeda

Minha sanidade à prova, toda hora

Insanos minutos ou segundos

Há dias não lhes vejo

Nem rogo lhes rever tão cedo

Amanhecem dias calmos por aqui

E furacões, maremotos, batalhas, eleições...

Sombras que refrescam tanta luz

Tanta luz em meus olhos

Tantos olhos velando por mim

Por nós

Enfileiradas, as velas nos altares

E nas alturas

Nos sepulcors caiados

Mesmo assim eu não ando tão triste

Gosto das tolas emoções cotidianas

Cheiro de chuva

E do arroz com feijão

Banho de mar

Esse seu sorriso tão feliz

Que às vezes até sorisso me surpreende

Sozinho ou no meio da multidão frenética

Adoro meu quarto longe de tanta gente

Minha solidão

Inda bem que não sou assim

E sem saber como sou

Que eu continuo

Tolo

Nesse meu dia-a-dia


Luanda, 01 de Novembro de 2008

Efemérides

Porque os vermes não são um destino nobre?
São as variadas mortes nos campos
As muitas sortes de todos esses pobres
Lembram corpos caídos ainda limpos
Suave sulgar de sangue em "Canudos"
Miseráveis espíritos, ainda todos mudos
Cabeças separadas de toda ordem
Maçons, rosacruzes, padres e muitos outros poderes
Cujas vidas se esgotam sutis e ardem
Nem sequer recuperam seus haveres
As tolas rimas cessam
Em farrapos ao sul
"Libertas quae" não será amém
Nem ninguém
Favelas que se formaram por todas cidade
E eu rio em janeiro
Seus soldos que não nos pagaram
Chagam feridas podres e mal cheirosas
Mesmo assim cantam rosas
Que não falam, não gorjeiam
e morrem como tudo o mais
Contudo é beleza
Efêmera


Luanda, 01 de Novembro de 2008