31 outubro 2010

Grão de areia

Talvez não faça diferença
o pequeno grão de areia,
assim tão ínfimo,
tão finito
perante o tão infinito,
perante as divindades.
Pobre grão de areia!
Mesmo existindo,
apenas existe.
O pequeno inseto
maior que o pó
será apenas pó.
Um imenso planeta
poeira Insignificante
perante o universo.
Ah! Vida tão finita!
Oh deuses!
Tende piedade de nós,
criação divina.


Avião a 1900 Km do Brasil, vindo de Luanda para São Paulo a uma altura de 11.582 m sobre o Oceano Atlântico, 04 de junho de 2010.

Minha casa tão pequenina

Minha casa tão pequenina
Tentei colocar ali junto ao fogão
Um pouco de alegria
Mas só coube a solidão
Fui arrumar perto da mesa
Um cadinho de beleza
Consegui um tanto, eu sei
Mas não combinou com a fruteira
Muitas frutas carcomidas
Não pela boca, pelo tempo.
Que o belo foi-se embora
Deu lugar a outra senhora
Nem formosa nem horrenda
Apenas tomou aquele lugar.
Outro dia arrumei tranquilidade
Coloquei ao lado da cadeira
Na sala de estar onde eu ficava
Mas o vizinho, ao seu estilo
Tratou logo de levá-la
Deixando companheira da solidão
A pobre depressão
Não me dei por vencida
Sou alma descontente
Com coisa pouco atraente
Limpei toda varanda
Coloquei ali a esperança
Mas como eu já não vivia
Ela, de verdade, não existia
Ficou comigo a ilusão.


1403 Km de São Paulo sobre o Oceano Atlântico, vindo de Luanda à 38.000 pés de altitude, no Avião
04 de Junho de 2010