30 março 2010

Rimas que tento

Tempo
Lento
No campo

Tento
Lendo
Sem tempo

Entendo
O tempo
Bento

E o vento
Atento
ao tempo

Sê contratempo
Em passatempo
do tempo



Luanda, 30 de Março de 2010

25 março 2010

Mundo tão pequeno

Ontem o mundo tão pequeno
para eu esconder minha pequenez extrema.
Eu não ouvi minha voz se lamentar muitas vezes,
mas lamentou-se tantas vezes apesar de tudo.
Eu ouvi vozes amigas me sussurrando alguma coisa.
Pena que meu ouvido se fez mouco uma vez mais.
Não havia nenhum buraco de avestruz
para eu me esconder de minha insensatez.
Fugir de mim mesmo,
desaparecer simplesmente.
Ontem o mundo era tão pequeno
e tantos olhos a me vigiar,
tantas vozes mudas a me criticar,
que nem as ouvi.
Apenas senti a minha mente
mentindo a mim mesmo.
Hoje já não há tanto peso.
Amanhã nem sei se vou lembrar,
nem sei se vou a algum lugar.

Luanda, 25 março de 2010

06 março 2010

Ave Maria

Ave Maria
Olhe para essa Terra
Terra com tantas desgraças
E tanta miséria
O Senhor não está conosco?
Bendita foste em teu fruto
E ante tantos pecados
Não rogue por nós
Predadores
Que em nossa hora da morte
Cerre seus olhos

Luanda, 06 de Março de 2010

Tristeza e solidão

Uma tristeza pode me dizer muita cousa
Porém eu não quero ouvir essa sua voz
Quero ser feliz ao menos um dia
Mas insiste em me falar junto ao meu ouvido
São tantas coisas a me fazer pensar
E me tiram poucas alegrias que recolho
Nem escolho em grande quantidade
E são bem simples assim
Louca tristeza sempre a me incomodar
Desvairada em suas verdades frias
Suas mortes muitas
E outras misérias que nem são minhas
Muitas vezes traz-me a solidão
Companheira de muitos colóquios
Ouça minha cara tristeza
Hoje sou eu quem lhe falo
Sei como é sua razão
Mas deixa comigo apenas a solidão
E continuo meu caminho
Outro dia eu vou lhe encontrar

Luanda, 06 de Março de 2010

Penso

Penso vários pensamentos
Mas não sei se penso quando penso
Se pensasse ao pensar
Pensaria diferente desse meu pensamento
Pensando bem, penso mesmo que não penso
mesmo quando penso que penso
em pensamento pensado
pensando sempre o que vou pensar


Luanda, 06 de Março de 2010

Revolução

Ouvi algo sobre mudanças,
boatos sobre um "front",
notícias de muitas mortes.
Disseram que vai mudar.
São boas novas,
são alvissareiras visões.
Muitos estão contentes.
Agora já são poucos a discordarem.
Agora já são poucos a se imolarem.
Agora já são poucos a se importarem.
É a revolução do bem,
é a revolução da verdade.
Pena que a verdade é tão diferente
naqueles corpos ensangues da guerra.
Pena que a verdade muda tanto
e assim tão rápido
como um projétil que perfura um crânio.
Ou uma vida, agora inerte.
A verdade não lhe ressuscitará
porque a verdade mente,
desde que ela já não lhe diz nada
ou nada serve aos seus ouvidos surdos,
sua voz calada e olhos cerrados.
Seu corpo vexado,
fechado para mais algum dia,
mais alguma guerra.
A revolução agora é dos vermes
e transformarão essa carne podre.


Luanda, 06 de março de 2010