23 março 2008

Hoje não tenho vontade

Hoje minha vontade de viver não é assim tão forte
Vou sair um pouco e ver se encontro alguma luz
Pena que a luz é tão intensa lá fora
E eu não sei se vou conseguir descobrir
Eu ainda busco seu rosto e seu gosto dentre tantos
E de modo algum consigo distinguir qualquer um
Eu gostaria ter vontade pelo menos de ter vontade
Me diga alguma coisa ou acenda uma luz diferente
... para mim

As horas que vão se passando me deixam cada vez mais perto
E, se passaram, nada tinham para me falar
Eu sinto que a escuridão está chegando
Me cegando a cada passo que eu não dou
Ou cada palavra que não venho a proferir
Sou inexato e profano sempre em busca
Mas eu nada quero buscar, hoje não
Quero me deitar em berço explêndido
Contemplá-la chegar devagarinho e sorrateira
Em seu manto negro abutre
Com sua voz gélida
Seu hálito seco
Seus olhos incertos
Sua luz ausente
Seu alvo sempre certo
Sua forma disforme

Consigo contar os segundos, pois que não passam
Meu tempo está se aproximando lentamente
Eu sinto que hoje eu não tenho vontade de viver
Mas mesmo assim o tempo passa lentamente
Preciso é acordar agora mesmo desse pesadelo
Mesmo desperto eu preciso velar
Em sono profundo onde me encontro
Esperando, simplesmete esperando, eu penso não poder ficar
Calado, mudo e inexato
Surdo, mouco e secreto
Eu ainda acho que deveria querer
Quem sabe por alguma causa lutar
E perder pelo menos
Alguma coisa pelo menos
Acho que minha vontade de viver não é assim tão forte



Luanda, 23 de Março de 2008

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